Parece-me que a ideia base por detrás desta associação é boa. Acontece que, na minha opinião, o resultado é mau!
Para o consumidor, o importante é comprar o que é bom. Comprar o que é nosso faz sentido, se for bom. E, a fórmula encontrada para promover o consumo de produtos portugueses não pode ser comprar porque é português. Deverá ser, isso sim, comprar o que é bom e comprar português é bom!
Mas quais os parâmetros para definirmos o que é bom?
A qualidade do produto? O preço? A relação entre a qualidade e o preço? A imagem? A marca? O gosto pessoal?
E depois, o que estamos a comprar é mesmo português? Se a matéria-prima for comprada lá fora para transformar cá dentro poderemos dizer que é português?
Uma empresa que se associe à associação "Compro o que é nosso" não deveria comprar matéria-prima portuguesa? Ou a cadeia só começa em quem transforma?
Este caminho terá alguma coisa a ver com o facto de nós, pobres coitados que não temos melhor argumento nem capacidade de competir com o que vem de fora, precisarmos como último argumento, de apelar ao coração?
Os produtos portugueses têm que se impôr por si. Argumentos para isso não nos faltam. Já demos provas evidentes de sermos capazes de fazer do melhor que há no mundo. Mas também aqui entre nós, que ninguém nos ouve, também conseguimos, muitas vezer, mostrar o contrário!
No sector primário, principalmente na agricultura, quando queremos, quando tratamos as coisas de forma profissional, sabemos fazer bem. Muito bem. Do melhor.
O que não percebemos e continuamos a não querer perceber, é que as pessoas até estão dispostas a pagar, desde que as consigamos surpreender/convencer.
Não podemos ter um produto de excelente qualidade numa má embalagem.
Não podemos vender qualidade se não comunicarmos essa qualidade. O consumidor, antes de consumidor é comprador e, no momento em que vai efectivar essa compra precisa de ser surpreendido/convencido. Precisa que o produto lhe seja vendido.
E isso só é possível se os produtores apostarem numa gestão de marketing e vendas profissional.
Diz o ditado que "de médico e louco todos temos um pouco". Acrescento que de marketing e vendas também todos sabemos um pouco. Mas será suficiente?
Porque é que as grandes empresas investem forte nestas àreas?
Não é aceitável que um produtor invista tudo na produção e depois não lhe sobre nada para a promoção. Quando fizeram os planos de investimento esqueceram-se que iriam ter que vender o produto?
Então só resta mesmo apelar ao coração e às divindades...